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MARCELO odebrecht DÁ FIM AO GOVERNO (GOLPISTA) DE TEMER

da Redação

Quarta-feira, 1 de Março de 2017

   A hipocrisia é a a irmã siamesa do moralismo.

   Quando o irmão entra em cena, ela chega com a imensa prole: o santarrão, o “tolinho”, o distraído, o “espero que a Justiça cumpra seu papel” e outros tantos. A partir disso é que se deve analisar o suposto conteúdo das declarações de Marcelo Odebrecht, evidentemente que vazadas e traduzida na versão dos advogados de Michel Temer presentes ao interrogatório

   As expressões pinçadas da fala de quatro horas, porém, nos dão a pista do papel que, depois de quase dois anos de cadeia, o herdeiro de Emílio Odebrecht se dispôs a fazer.

  Melhor ainda se prestarmos atenção a um singelo parágrafo do que publicaram Bela Megale, Mario Cesar Carvalho e Walter Nunes, em junho passado na Folha, um mês após a subida de Michel Temer ao poder, tratando do que eles chamam de súbita “conversão” do empresário: Marcelo era inicialmente contra a colaboração, mas dobrou-se às evidências apresentadas por seu pai, Emílio Odebrecht: ou delata ou o grupo quebra. As dívidas chegam a R$ 90 bilhões. Finalmente ele topou.

   Ele topou, exatamente porque não é bobo e sabe como funcionam as cortes, inclusive e principalmente o velho adágio: “Rei Morto, Rei Posto”. Ponha-se o estimado leitor e a atenta leitora no lugar do mais verde advogado e saberá, de imediato, a quem deve ser apontado o dedo e quem deve ser “aliviado”, em troca do “topar”.

   Porque não há conversão, como num milagre de fé.

   O que há são negociações para firmar um acordo que, como todo acordo, é feito para satisfazer interesses. As declarações de fé ficam pela pitada romântica que os folhetins devem ter, como aquela fala de outro “convertido”, Paulo Roberto Costa – a quem agora o MP quer anular a delação, por achar que ele seguiu escondendo dinheiro –  ao dizer-se “enojado” com a sua própria roubalheira.

   Haverá “danos colaterais” no governismo, é inevitável na avalanche de dinheiros que sempre rolou – e e muito preferencialmente para a a direita – nas campanhas políticas, nas caixas 1 e 2. "Mamãe” Hipocrisia, Michel Temer e todos os outros vão dizer que era tudo legal e contabilizado.

   Mas o grosso da artilharia será voltado para atingir os governos de Dilma e Lula, mesmo que com histórias absolutamente inverossímeis como a tal de ter havido um acerto com o Refis de 2009 e que a contrapartida por ele tenha se dado só em 2014.

   O Refis de 2009, para quem não se lembra, foi uma das medidas tomadas para permitir que as empresas abaladas pelo “tsunami” de 2008 e muita gente “boa” se beneficiou dele para isso e para outras coisas. A Globo, por exemplo, para acertar as contas daquela famosa sonegação dos direitos de transmissão da Copa de 2002, a do “processo desaparecido” na Receita. Na lei brasileira, mesmo que você tenha sonegado abertamente, extingue-se o processo se o sonegador paga a dívida, deixa de ser crime…

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   Por isso, ontem, antes do vazamento do depoimento de Marcelo Odebrecht, escrevi que o país não pode ficar parado à espera do que dizem bandidos. Bilionários não são bobos. Políticos não são bobos, procuradores e juízes também não são. E menos, muito menos ainda, é a mídia.

A corte não é boba e nela bobos não há.

   A história dos R$ 10 milhões dados pela Odebrecht a pedido de Michel Temer, na campanha de 2014, vale bem mais do que aqueles milhões. Se os inquéritos que “estão mudando o Brasil” fossem menos sinuosos, a história poderia valer a Presidência da República. E dar uma dimensão mais real ao ataque à corrupção que vai da política aos cofres públicos e privados.

   (A propósito: se um empresário de obras públicas é convidado a jantar com o vice-presidente da República, em palácio, e dele ouve um pedido explícito de dinheiro, que alternativas tem para sua resposta?)

   O advogado José Yunes, amigo mais próximo de Michel Temer, diz que “até hoje” não sabe o que havia no envelope entregue em seu escritório pelo doleiro Lúcio Funaro, para alegado repasse a Eliseu Padilha.

   Ao relatar o fato, como quem precisa lavar as mãos enquanto é tempo, Yunes definiu-se como “mula” de Padilha. Ora, no jargão policialesco, “mula” é o transportador de dinheiro ou de droga. Não havendo motivo para supor que Padilha esperasse remessa de droga, Yunes só poderia ver-se como “mula” se soubesse haver dinheiro na encomenda.

   Por certo, não a entregou a qualquer um. Mas não revela quem a levou ao destinatário, se não foi ele próprio. Nem quem foi esse destinatário, se Padilha ou o seu amigo de confiança. Não evitou, porém, um esclarecimento insidioso, por vontade ou não, ao jornalista Lauro Jardim: “Contei tudo ao presidente em 2014. (…) Ele não foi falar com o Padilha. O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre [risos]”. Nem precisava dos risos.

   A nota presidencial, a propósito das palavras de Yunes, admite que Temer pediu à Odebrecht “auxílio formal e oficial”, e “não autorizou nem pediu que nada fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral. (…) É essa a única participação do presidente no episódio”.

   Única, não. O pedido ao convidado Marcelo Odebrecht resultou de propósitos financeiros definidos ou, no mínimo, autorizados por Temer. São declaráveis e comprováveis? A responsabilidade (i)legal é de quem teve a iniciativa do pedido, do recebimento mesmo que indireto, e da destinação. E nesse aspecto Temer se apresenta como omisso, seja por conveniência ou não. Apresenta-se mas não é.

   As possíveis implicações desse trecho do episódio são muitas e graves. A comprová-lo há, entre outros indicativos, palavras escritas por Eduardo Cunha.

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